Design Ancestral: Origens e Evolução

10.6.2023

Design Ancestral: Origens e Evolução

10.6.2023

Design Ancestral: Origens e Evolução

10.6.2023

Artigo #01 | Design Ancestral: Origens e Evolução

10.6.2023

Design Ancestral: Origens e Evolução

Design Ancestral: Origens e Evolução

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Os primeiros designs foram feitos há milhões de anos, muito antes da nossa versão humana mais moderna, mas eles já continham conexões profundas que hoje são exploradas pelas maiores empresas do mundo. Para falar sobre essa sinergia, esse artigo foi dividido em quatro tópicos: design, design ancestral, a “machadinha de mão” milenar e algumas essências humanas que parecem ser inalteráveis, e que podem ser valiosas em qualquer projeto de design.

Chega a ser impressionante a idolatria com quem “pensa fora da caixa”, como se a criatividade fosse uma habilidade exclusiva de algumas poucas pessoas.

Ironicamente, são raros os ambientes que incentivam de verdade as experimentações e são tolerantes com erros, falhas ou possíveis resultados insatisfatórios de alguma ideia nova.

É como se a equipe ou a pessoa criativa tivesse que ter um momento Eureka na hora certa, o que contraria a própria essência imprevisível do momento Eureka.Nenhum projeto pode ser refém de brilhantismos randômicos, porque isso sim significaria um risco para os investimentos de tempo e dinheiro, assim como uma incerteza com relação aos resultados.

Nesse contexto, o grande desafio é conciliar progresso com segurança e inovação com previsibilidade, o que geralmente é feito com planejamentos e estruturas sólidas, mas também — erroneamente — através da constante busca por brilhantismos individuais.

Nesse artigo nós falamos sobre a essência democrática da criatividade, reforçando a visão de que ela é algo inerente a todas as pessoas, e apresentamos alguns requisitos para que ela possa florescer.

No final, também mostramos um framework próprio da Primata, a Copa do Mundo de Ideias, e mostramos algumas técnicas que ajudam a potencializar a criatividade colaborativa.

Por que somos todos Primatas Criativos?

Uma das nossas grandes referências para a escolha do nome “Primata Criativo” foi justamente essa essência ancestral da criatividade, intrínseca em todos nós desde os primórdios.

Como comentamos aqui, nossos “primos distantes” já faziam design há centenas de milhares de anos, lascando pedras para criar ferramentas e joias.

Pintura rupestre de um javali selvagem, com mais de 45,5 mil anos. Encontrada na Indonésia em

A comunicação gráfica também é uma das nossas linguagens mais antigas, e inicialmente também era usada para transmitir conhecimentos tecnológicos e culturais.

Tão impressionante quanto essas criações terem ocorrido há tanto tempo é o fato de que elas sobreviveram até hoje, o que não seria possível sem técnicas sofisticadas

Isso mostra que a capacidade de imaginar, construir e manifestar algo novo sempre fez parte de nós, e todos podemos fortalecer essa habilidade, é só uma questão de prática e aperfeiçoamento.

A Criatividade como algo de "Superstars"

Por diversas questões, pela forma como a cultura da nossa sociedade se desenvolveu ao longo dos séculos, a criatividade foi sendo separada do dia a dia. Essa cisão ficou ainda mais intensa após a revolução industrial, com as produções em série e massificação.

Hoje vemos a criatividade ser podada desde cedo, na escola ou no lar — e a crença de que a criatividade é uma espécie de dom também vai passando de geração em geração. Que equívoco.

Nesse mesmo sentido, os ambientes sociais também se tornaram cada vez menos tolerantes às experimentações, pois erros resultam em punições.



A Criação de Adão, de Michelangelo.

Com o passar do tempo, a criatividade ficou cada vez mais restrita às manifestações artísticas ou profissões específicas, e aos demais seres humanos, que supostamente não foram abençoados, só resta o trabalho.

Em meio a tudo isso, agora a sociedade nos pede: sejam diferentes, pensem fora da caixa, inovem (mas obviamente sem muitos riscos). Como?

O poder das Tribos Criativas

Depois de tantas experiências boas e ruins, aprendemos na teoria e na prática que para trabalhar com a criatividade, também é preciso saber trabalhar a inteligência do grupo.

Ao invés de esperar pelo brilhantismo de um indivíduo "iluminado", precisamos de dezenas ou centenas de ideias para escolhermos colaborativamente as que tem maior potencial. Duas (ou muitas) cabeças pensam melhor que uma, não é?

No livro O Poder do Nós, os psicólogos Dominic Packer e Jay Van Bavele mostram alguns elementos que tornam grupos mais inteligentes, e a inteligência emocional tem um papel fundamental.

  1. Diversidade: Grupos diversos são mais propensos a ter uma gama mais ampla de perspectivas, o que permite uma melhor geração e avaliação das ideias.
  2. Integridade: Quando as pessoas confiam umas nas outras, elas sentem maior abertura para compartilhar suas ideias, e por isso tendem a ser mais honestas e dar maior abertura para receber críticas.
  3. Tempo: Quando todos se sentem ouvidos e respeitados, o compromisso com a tomada de decisão é maior — ou seja, quanto menos autoritarismo e tagarelice, melhor.
  4. Comunicação: Os grupos que são capazes de se comunicar de forma eficaz são mais propensos a entender uns aos outros e a chegar em consenso. Na práica isso significa evitar picuinhas ou meias palavras.

Quando colocadas em prática, essas quatro diretrizes permitem que a ideias surjam com mais naturalidade e fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis no caótico processo criativo.

As coisas ficam ainda melhores quando temos objetivos claros e todos possuem acesso a informações de qualidade a respeito do projeto.

Instrumentos Criativos

As ferramentas também possuem um papel fundamental para o sucesso da criatividade, sejam elas instrumentos musicais, pinceis, tintas ou lata de spray, um martelo e serrote, uma metodologia ou um framework, enfim...



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A evolução do artificial está diretamente ligada a evolução das ferramentas de cada tempo, por isso também é importante ficarmos atentos às tecnologias que permitem a produção criativa.

A Copa do Mundo de Ideias é uma das nossas ferramentas criadas para ajudar a decidir qual a melhor ideia do grupo, utilizando um sistema de rodadas eliminatórias onde diferentes conceitos são colocados frente a frente para saber qual atende melhor os critérios do desafio/objetivo.Esses critérios também são estruturados de acordo com cada projeto, por exemplo, no caso da escolha de um nome: qual soa melhor, qual é mais memorável, quais associações positivas ele promove, entre outros.

Cada um desses critérios "marca um gol" para uma das duas ideias em disputa, o que não impede a possibilidade de um possível empate tanto do próprio critério específico, quanto da "partida", o que é resolvido por um momento de deliberação mais aberto.

Também há um "critério de segurança" para barrar possíveis ideias prejudiciais, como por exemplo, ainda aproveitando o exemplo dos nomes, "possível sensação ruim que ele causa".

Framework da Copa do Mundo dos Nomes, elaborado pela Primata Criativo.

A substituição do brainstorm pelo brainwrite (também conhecido como Técnica de Grupo Nominal) trouxe resultados infinitamente melhores, especialmente ao impedir que aquela pessoa tagarela domine a sessão de ideação. E ao trabalhar as anotações anonimamente, suprimimos egos inflamados e julgamentos que podem ser prejudiciais para o projeto.

No fim das contas, adotamos algo que chamamos internamente de Processo Darwiniano de Ideação: os insights mais fortes ou adaptáveis sobrevivem ao processo de avaliar e testar ideias.

Conclusão

Todas as pessoas são criativas e podem ajudar a imaginar e a criar algo novo, mas se o ambiente não dá abertura para erros, se os encontros não permitem que todos falem, se a chefia intimida ao invés de liderar, se não há confiança entre os membros da equipe e se não há ferramentas apropriadas, nem com toda inspiração do mundo é possível criar algo original e de qualidade.

Se você gostou desse conteúdo, e tem curiosidade para saber mais sobre os nossos métodos e ferramentas, fique ligado porque tem muita coisa boa saindo da fogueira!

O que é design?

Uma definição muito ampla e propagada caracteriza o design como a disciplina responsável por modificar o natural através da construção do artificial.

Na Primata, de forma mais objetiva, nós gostamos de definir o design como uma abordagem holística para transformar a realidade a partir da intersecção entre ciências, tecnologias, humanidades e artes, sempre considerando outros fatores transversais como sustentabilidade, ética e visões de futuro.

Como um instrumento essencialmente criativo e propositivo para inovar, é importante destacarmos que a própria realidade se modifica intensamente com o passar do tempo, e essa transformação tem acontecido de maneira cada vez mais dinâmica e profunda.

Por conta desses fatores, também podemos afirmar que o design nunca “é”, o design sempre “está”, e as constantes transformações, adaptações e evoluções também são características do design.

Imagem do quadrante de Jay Doblin
Soma de todas as dimensões do quadrante de Jay Doblin, além das dimensões da ética, sustentabilidade e futuro. @Primata Criativo


Design ancestral

Um bom design se conecta com as pessoas para além da usabilidade.

Quando falamos em design não estamos nos referindo apenas ao desenho de um produto, mas sim ao conceito mais profundo que envolve a criação e o desenvolvimento de algo que se conecta com as pessoas para além da usabilidade, em um nível simbólico e emocional.

O design ancestral busca compreensão nas raízes humanas, e naquilo que nos moldou como espécie ao longo dos tempos, para produzir produtos e culturas que se tornam uma extensão natural de nós mesmos.

A maioria dos artefatos e ferramentas ancestrais se perderam por conta dos materiais utilizados, mas a Cultura Acheuliana e a tecnologia Olduvaiense indicam que nossos ancestrais distantes também uniram forma, função e simbologia para criar objetos que continham valor para além do uso prático.


A “machadinha de mão” ancestral

Nossos antepassados já criavam ferramentas mais sofisticadas há mais de 2 milhões de anos, e são essas ferramentas que trazem questionamentos que nos intrigam e nos inspiram até hoje.

Para além das utilidades práticas como defesa, caça e aplicações em trabalhos específicos, essas machadinhas de mão, em formato de gota, possuíam detalhes e simetrias que continham esmero, cuidados e lapidações para muito além do “necessário”.

Esculpidas cuidadosamente como verdadeiras joias, elas nos fazem considerá-las também como objetos de ostentação, indicando uma descendência ancestral na nossa preocupação com a beleza e a forma.

Imagem de uma machadinha de mão acheuliana
Uma réplica da biface cordiforme do Acheulense. @José-Manuel Benito Álvarez


Sinergias com o nosso tempo (e o futuro)

Por que as vezes nos sentimos mais felizes e confortáveis em um ambiente singelo, do que em um lugar super descolado que foi desenhado especialmente para agradar? Nem sempre conseguimos explicar de maneira clara e objetiva.

O fato é que essas conexões profundas nos acompanham desde os primórdios, e fazem parte de todos nós, Primatas, o que deixa evidente a necessidade de explorarmos os atributos simbólicos com tanto rigor quanto elementos objetivos e funcionais, em qualquer projeto de design, seja ele físico, digital ou imaterial.

Não é por acaso que muitos designs minimalistas e discursos vazios — como por exemplo os princípios, valores e missões das empresas, ou mesmo campanhas publicitárias — acabam caindo facilmente no esquecimento, sob o falso pretexto de “agradar a todos” ou de “usar a simplicidade para promover a usabilidade”.

Imagem de um homem utilizando o dispositivo Apple Vision Pro
Apple Vision Pro: mais uma bugiganga insignificante? Só o tempo dirá. @Apple

Por mais que o designer se apoie em novas tecnologias para oferecer inovações, esses fatores mais subjetivos podem ser determinantes, ou pelo menos grandes potencializadores na construção significativa da relação entre pessoas e marcas, evitando que um bom produto ou uma grande tecnologia se torne apenas uma bugiganga insignificante.

Tudo isso reforça a importância do aspecto holístico do Design, que muitas vezes é direcionado exclusivamente para estética, inovação tecnológica, diferenciação no mercado, acessibilidade, ou custos de fabricação... e acaba desperdiçando infinitas possibilidades de gerar produtos que verdadeiramente se conectam e transformam a vida das pessoas.

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