O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

25.6.2023

O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

25.6.2023

O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

25.6.2023

Artigo #03 | O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

25.6.2023

O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

O papel do Design para o sucesso ou fracasso do Design Thinking.

Temporada
1
Episódio
3
Propagado no mundo todo como se fosse uma fórmula mágica, o Design Thinking vem enfrentando alguns problemas que colocam em dúvida a sua eficiência. Nesse artigo nós abordamos esses problemas, primeiramente relembrando o que motivou tamanha popularização, depois explicando como resolvemos esses problemas no nosso Pique Primata. Por fim, resgatamos algumas essências indispensáveis do Design, em uma analogia com o Kung Fu.

Chega a ser impressionante a idolatria com quem “pensa fora da caixa”, como se a criatividade fosse uma habilidade exclusiva de algumas poucas pessoas.

Ironicamente, são raros os ambientes que incentivam de verdade as experimentações e são tolerantes com erros, falhas ou possíveis resultados insatisfatórios de alguma ideia nova.

É como se a equipe ou a pessoa criativa tivesse que ter um momento Eureka na hora certa, o que contraria a própria essência imprevisível do momento Eureka.Nenhum projeto pode ser refém de brilhantismos randômicos, porque isso sim significaria um risco para os investimentos de tempo e dinheiro, assim como uma incerteza com relação aos resultados.

Nesse contexto, o grande desafio é conciliar progresso com segurança e inovação com previsibilidade, o que geralmente é feito com planejamentos e estruturas sólidas, mas também — erroneamente — através da constante busca por brilhantismos individuais.

Nesse artigo nós falamos sobre a essência democrática da criatividade, reforçando a visão de que ela é algo inerente a todas as pessoas, e apresentamos alguns requisitos para que ela possa florescer.

No final, também mostramos um framework próprio da Primata, a Copa do Mundo de Ideias, e mostramos algumas técnicas que ajudam a potencializar a criatividade colaborativa.

Por que somos todos Primatas Criativos?

Uma das nossas grandes referências para a escolha do nome “Primata Criativo” foi justamente essa essência ancestral da criatividade, intrínseca em todos nós desde os primórdios.

Como comentamos aqui, nossos “primos distantes” já faziam design há centenas de milhares de anos, lascando pedras para criar ferramentas e joias.

Pintura rupestre de um javali selvagem, com mais de 45,5 mil anos. Encontrada na Indonésia em

A comunicação gráfica também é uma das nossas linguagens mais antigas, e inicialmente também era usada para transmitir conhecimentos tecnológicos e culturais.

Tão impressionante quanto essas criações terem ocorrido há tanto tempo é o fato de que elas sobreviveram até hoje, o que não seria possível sem técnicas sofisticadas

Isso mostra que a capacidade de imaginar, construir e manifestar algo novo sempre fez parte de nós, e todos podemos fortalecer essa habilidade, é só uma questão de prática e aperfeiçoamento.

A Criatividade como algo de "Superstars"

Por diversas questões, pela forma como a cultura da nossa sociedade se desenvolveu ao longo dos séculos, a criatividade foi sendo separada do dia a dia. Essa cisão ficou ainda mais intensa após a revolução industrial, com as produções em série e massificação.

Hoje vemos a criatividade ser podada desde cedo, na escola ou no lar — e a crença de que a criatividade é uma espécie de dom também vai passando de geração em geração. Que equívoco.

Nesse mesmo sentido, os ambientes sociais também se tornaram cada vez menos tolerantes às experimentações, pois erros resultam em punições.



A Criação de Adão, de Michelangelo.

Com o passar do tempo, a criatividade ficou cada vez mais restrita às manifestações artísticas ou profissões específicas, e aos demais seres humanos, que supostamente não foram abençoados, só resta o trabalho.

Em meio a tudo isso, agora a sociedade nos pede: sejam diferentes, pensem fora da caixa, inovem (mas obviamente sem muitos riscos). Como?

O poder das Tribos Criativas

Depois de tantas experiências boas e ruins, aprendemos na teoria e na prática que para trabalhar com a criatividade, também é preciso saber trabalhar a inteligência do grupo.

Ao invés de esperar pelo brilhantismo de um indivíduo "iluminado", precisamos de dezenas ou centenas de ideias para escolhermos colaborativamente as que tem maior potencial. Duas (ou muitas) cabeças pensam melhor que uma, não é?

No livro O Poder do Nós, os psicólogos Dominic Packer e Jay Van Bavele mostram alguns elementos que tornam grupos mais inteligentes, e a inteligência emocional tem um papel fundamental.

  1. Diversidade: Grupos diversos são mais propensos a ter uma gama mais ampla de perspectivas, o que permite uma melhor geração e avaliação das ideias.
  2. Integridade: Quando as pessoas confiam umas nas outras, elas sentem maior abertura para compartilhar suas ideias, e por isso tendem a ser mais honestas e dar maior abertura para receber críticas.
  3. Tempo: Quando todos se sentem ouvidos e respeitados, o compromisso com a tomada de decisão é maior — ou seja, quanto menos autoritarismo e tagarelice, melhor.
  4. Comunicação: Os grupos que são capazes de se comunicar de forma eficaz são mais propensos a entender uns aos outros e a chegar em consenso. Na práica isso significa evitar picuinhas ou meias palavras.

Quando colocadas em prática, essas quatro diretrizes permitem que a ideias surjam com mais naturalidade e fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis no caótico processo criativo.

As coisas ficam ainda melhores quando temos objetivos claros e todos possuem acesso a informações de qualidade a respeito do projeto.

Instrumentos Criativos

As ferramentas também possuem um papel fundamental para o sucesso da criatividade, sejam elas instrumentos musicais, pinceis, tintas ou lata de spray, um martelo e serrote, uma metodologia ou um framework, enfim...



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A evolução do artificial está diretamente ligada a evolução das ferramentas de cada tempo, por isso também é importante ficarmos atentos às tecnologias que permitem a produção criativa.

A Copa do Mundo de Ideias é uma das nossas ferramentas criadas para ajudar a decidir qual a melhor ideia do grupo, utilizando um sistema de rodadas eliminatórias onde diferentes conceitos são colocados frente a frente para saber qual atende melhor os critérios do desafio/objetivo.Esses critérios também são estruturados de acordo com cada projeto, por exemplo, no caso da escolha de um nome: qual soa melhor, qual é mais memorável, quais associações positivas ele promove, entre outros.

Cada um desses critérios "marca um gol" para uma das duas ideias em disputa, o que não impede a possibilidade de um possível empate tanto do próprio critério específico, quanto da "partida", o que é resolvido por um momento de deliberação mais aberto.

Também há um "critério de segurança" para barrar possíveis ideias prejudiciais, como por exemplo, ainda aproveitando o exemplo dos nomes, "possível sensação ruim que ele causa".

Framework da Copa do Mundo dos Nomes, elaborado pela Primata Criativo.

A substituição do brainstorm pelo brainwrite (também conhecido como Técnica de Grupo Nominal) trouxe resultados infinitamente melhores, especialmente ao impedir que aquela pessoa tagarela domine a sessão de ideação. E ao trabalhar as anotações anonimamente, suprimimos egos inflamados e julgamentos que podem ser prejudiciais para o projeto.

No fim das contas, adotamos algo que chamamos internamente de Processo Darwiniano de Ideação: os insights mais fortes ou adaptáveis sobrevivem ao processo de avaliar e testar ideias.

Conclusão

Todas as pessoas são criativas e podem ajudar a imaginar e a criar algo novo, mas se o ambiente não dá abertura para erros, se os encontros não permitem que todos falem, se a chefia intimida ao invés de liderar, se não há confiança entre os membros da equipe e se não há ferramentas apropriadas, nem com toda inspiração do mundo é possível criar algo original e de qualidade.

Se você gostou desse conteúdo, e tem curiosidade para saber mais sobre os nossos métodos e ferramentas, fique ligado porque tem muita coisa boa saindo da fogueira!

De onde vem esse hype?

O nome Design Thinking se consolidou na década de 1960, quando engenheiros e cientistas se interessaram pela forma que os designers realizavam seus projetos, utilizando metodologias mais exploratórias, com diversas prototipagens e testagens até a elaboração do produto final.

Para além desse aspecto incremental e circular, os designers se destacavam pela habilidade de convergir interesses diferentes na elaboração dos projetos, como marketing, engenharia e negócios, partindo de uma abordagem holística que muitas vezes utilizava referenciações não convencionais e aproveitava conhecimentos de especialistas de várias disciplinas.

Para o Designer, o Design Thinking é apenas o Thinking, ou seja, essa já é a sua forma de trabalhar no dia a dia.

Com o passar do tempo, ficou evidente que esse olhar do designer poderia ser aproveitado em muitas áreas para além da indústria, como administração, organização de empresas, recursos humanos, educação, saúde, políticas públicas, serviços públicos e privados e basicamente qualquer trabalho criativo.

Frustrações com o Design Thinking

O que deveria ser um momento de trabalho colaborativo, com uma equipe multidisciplinar para identificar problemas e propor soluções conjuntas, muitas vezes se tornou uma espécie de oficina motivacional, com interações e participações sem objetivos claros, embasadas na aplicação de supostas "fórmulas prontas".

Essas oficinas eventualmente se parecem mais com uma palestra, uma terapia em grupo ou uma ação para engajar os funcionários, do que propriamente um processo de design para entender problemas de maneira profunda, idear e prototipar soluções, em ciclos contínuos com testagens e validações.

Destacamos três problemas que "são raros mas acontecem muito":

1. Mandachuva solitário, colaboração arruinada

O trabalho verdadeiramente em equipe envolve muitas questões práticas e simbólicas, as vezes escancaradas, as vezes sutis, que tanto podem extrair o melhor de cada um quanto comprometer as participações — e consequentemente todo o projeto.


Homem de paletó rodeado de post-its voando, com aparência megalomaníaca.
"O dono do projeto" , gerada pelo Bing Creator.


Quem nunca participou de uma oficina de DT em que só uma pessoa tinha voz? Ou aquele ambiente onde as pessoas tinham receio de se expressar? Ou até mesmo viu ideias de destaque sendo descartadas por decisões individuais, arbitrárias e questionáveis?

Na Primata, as boas práticas do Pique Primata envolvem anotações anônimas e o conceito de "juntos mas separados", o que garante o direito de voz para todos, e promove uma dinâmica em que o decisor atua somente em momentos pontuais e estratégicos, não interferindo no nosso processo darwiniano de ideias.

Esse processo darwiniano favorece as melhores ideias de modo colaborativo e horizontal, independentemente dos caprichos pessoais. Dessa forma conseguimos potencializar o lado criativo de cada um, priorizar a colaboração e conciliar todas as criações com os interesses do próprio projeto, sem vieses nem apegos.

2. Muita gaveta pra pouco protótipo

Outro problema muito comum nas oficinas de DT é uma espécie de fechamento ao término dos workshops, em que todos voltam aos seus afazeres diários.

Se a equipe não consegue ver algum resultado no curto espaço de tempo, as pessoas rapidamente se esquecem da experiência, ou na melhor das hipóteses, se lembram de um momento diferente de trabalho em conjunto, em que aparentemente foram ouvidas dentro da empresa, mas dificilmente assimilam o DT como uma abordagem eficiente que proporciona uma inovação ou resolve determinado problema.


Uma cômoda, no meio da floresta, lotada de post-its.
"Post-its abandonados", gerada pelo Adobe Firefly.


Para além desse aspecto mais motivacional, a falta de protótipos e resultados no curto prazo também influencia diretamente no sucesso (ou fracasso) de todo o projeto, porque os protótipos iniciais, por mais básicos que sejam — famosos “porcótipos” — continuam sendo fundamentais para a realização de testagens, validações e novas interpretações para futuros desenvolvimentos e aprimorações, o que vai muito além de “voltar ao ciclo do diamante duplo”.

Na Primata, damos prioridade máxima para o desenvolvimento dos protótipos logo após a conclusão das oficinas, o que permite que os ciclos de experimentação sejam realizados o mais rápido possível. E por que isso é tão importante?

Porque uma das premissas do design — desde os primórdios — é conceber e testar ideias para aumentar as chances de sucesso das soluções, sem se expor a riscos desnecessários, e isso só é possível quando temos um entregável palpável e bem definido, da mesma forma que o risco só diminui quando sua aplicação é colocada à prova.

 

3. Fórmula mágica, visão limitada

Por fim, chegamos no maior problema de qualquer oficina de Design Thinking: quando o “Thinking” sobressai ao “Design”. Talvez por influência do nome, muitas pessoas naturalmente associam o DT com um momento de ideação e brainstorm, e isso resulta em duas desvirtuações graves.

Primeiro, a falta da devida atenção ao momento de discovery pode fazer com que as soluções não tenham a abrangência ou o direcionamento necessário para o projeto, e dessa forma, por mais que as respostas possam parecer excelentes, se elas não respondem as perguntas verdadeiramente importantes, qualquer resultado será limitado.

Segundo, o DT não é uma fórmula mágica para ser aplicada. Como já falamos antes, qualquer projeto de design precisa saber como utilizar as técnicas, ferramentas e metodologias com um direcionamento personalizado para cada projeto.

 

Mago Merlin, no filme "A Espada era a Lei", arrumando seus livros com mágica.
Mago Merlin no filme A Espada era a Lei. @Disney


As próprias essências do design envolvem a abordagem holística, as correlações não usuais, a colaboração multidisciplinar e o olhar estratégico para estruturar devidamente qualquer projeto, e sendo assim, toda técnica, ferramenta, canva, metodologia e afins deve ser vista apenas como um instrumento.

Em uma analogia com a música, um instrumento de qualidade não significa uma música de qualidade, assim como um excelente músico precisa do devido instrumento para produzir em alto nível.

Sem essa perspectiva ampliada, ou sem saber como aproveitar os instrumentos nos momentos certos para extrair os melhores resultados, é compreensível que o Design Thinking se transforme em uma espécie de evento, porque ele não é uma receita de bolo que demanda a simples aplicação passo a passo para gerar resultados espetaculares. Nem na culinária as coisas funcionam assim.

Na Primata, tanto quanto designers, nos definimos como metodologistas especialmente por conta dessa preocupação — e modéstia à parte, os conhecimentos adquiridos em centenas de projetos — para criar, modelar, evoluir e adaptar nossos instrumentos do Pique Primata em cada projeto.

Hoje temos dezenas de canvas estruturados para os workshops e as sessões de colaboração em time, alguns muito conhecidos, outros criados por nós, e nem assim podemos cogitar a ideia de possuir fórmulas prontas. Para provar que isso não é um exagero, este artigo está sendo publicado logo após uma oficina do Pique Primata, e acredite, há poucos dias aplicamos uma ferramenta totalmente nova, que foi estruturada para atender as necessidades específicas daquele momento do projeto.

Correlações com o Kung Fu (Wushu)

Muito mais do que “um tipo de luta”, o Kung Fu é um estilo de vida holístico que se estende além de técnicas de combate e treinamentos físicos, incluindo por exemplo a adoção de uma dieta saudável, autodisciplina, desenvolvimento de virtudes humanas como paciência e humildade, além de momentos de introspecção e contemplação através da meditação, e diversos outros pontos que são aplicados em praticamente qualquer aspecto da vida.

Essa visão sistêmica e sinérgica também deve estar presente em todo projeto de design, especialmente pelo potencial que essa visão cria para gerar associações entre coisas e universos aparentemente distantes, e resolver problemas de forma direcionada e verdadeiramente única.


Seis mestres kung fu feitos e post-its.
Mestres Kung Fu feitos de post-its, gerada pelo Bing Creator.


Outra essência do design, a abertura para novas interpretações e aprendizagens também se relaciona estritamente com um dos maiores problemas das oficinas de Design Thinking, que é o apego quase automático ao momento de ideação, que deveria ser apenas uma das etapas do projeto.

É compreensível que diante de um problema as pessoas sintam certa ansiedade para descobrir rapidamente as respostas, mas o atropelo das etapas de descoberta, sem uma imersão profunda e sem efetivamente ouvir as pessoas (incluindo a equipe do projeto, clientes, usuários ou realmente qualquer pessoa) é o que faz com que tantas oficinas não gerem resultados.

Em uma analogia mais direta, a geração de ideias pode ser igual a tentar imaginar novos movimentos para o Kung Fu: a utilidade e o sucesso da execução são muito mais importantes do que qualquer genialidade que fique restrita ao plano das ideias. Em outras palavras, idear é fácil, mas canalizar, executar e melhorar ideias de sucesso é muito mais difícil.

Por fim, muitos processos apelidados de Design Thinking não sabem aonde querem chegar. Se um processo não possui produtos para serem prototipados, avaliados, testados e implementados, se não altera nem propõe novos contextos, ele pode ser um processo de alguma outra coisa, mas não de design.

Quando o Design Thinking é bem aplicado, os resultados sempre ficam evidentes e as pessoas percebem claramente os seus benefícios.

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