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Design Enxuto: a inovação raiz
6.8.2023
Design Enxuto: a inovação raiz
6.8.2023
Design Enxuto: a inovação raiz
6.8.2023
Artigo #08 | Design Enxuto: a inovação raiz
6.8.2023
Design Enxuto: a inovação raiz
Design Enxuto: a inovação raiz
Chega a ser impressionante a idolatria com quem “pensa fora da caixa”, como se a criatividade fosse uma habilidade exclusiva de algumas poucas pessoas.
Ironicamente, são raros os ambientes que incentivam de verdade as experimentações e são tolerantes com erros, falhas ou possíveis resultados insatisfatórios de alguma ideia nova.
É como se a equipe ou a pessoa criativa tivesse que ter um momento Eureka na hora certa, o que contraria a própria essência imprevisível do momento Eureka.Nenhum projeto pode ser refém de brilhantismos randômicos, porque isso sim significaria um risco para os investimentos de tempo e dinheiro, assim como uma incerteza com relação aos resultados.
Nesse contexto, o grande desafio é conciliar progresso com segurança e inovação com previsibilidade, o que geralmente é feito com planejamentos e estruturas sólidas, mas também — erroneamente — através da constante busca por brilhantismos individuais.
Nesse artigo nós falamos sobre a essência democrática da criatividade, reforçando a visão de que ela é algo inerente a todas as pessoas, e apresentamos alguns requisitos para que ela possa florescer.
No final, também mostramos um framework próprio da Primata, a Copa do Mundo de Ideias, e mostramos algumas técnicas que ajudam a potencializar a criatividade colaborativa.
Por que somos todos Primatas Criativos?
Uma das nossas grandes referências para a escolha do nome “Primata Criativo” foi justamente essa essência ancestral da criatividade, intrínseca em todos nós desde os primórdios.
Como comentamos aqui, nossos “primos distantes” já faziam design há centenas de milhares de anos, lascando pedras para criar ferramentas e joias.
A comunicação gráfica também é uma das nossas linguagens mais antigas, e inicialmente também era usada para transmitir conhecimentos tecnológicos e culturais.
Tão impressionante quanto essas criações terem ocorrido há tanto tempo é o fato de que elas sobreviveram até hoje, o que não seria possível sem técnicas sofisticadas.
Isso mostra que a capacidade de imaginar, construir e manifestar algo novo sempre fez parte de nós, e todos podemos fortalecer essa habilidade, é só uma questão de prática e aperfeiçoamento.
A Criatividade como algo de "Superstars"
Por diversas questões, pela forma como a cultura da nossa sociedade se desenvolveu ao longo dos séculos, a criatividade foi sendo separada do dia a dia. Essa cisão ficou ainda mais intensa após a revolução industrial, com as produções em série e massificação.
Hoje vemos a criatividade ser podada desde cedo, na escola ou no lar — e a crença de que a criatividade é uma espécie de dom também vai passando de geração em geração. Que equívoco.
Nesse mesmo sentido, os ambientes sociais também se tornaram cada vez menos tolerantes às experimentações, pois erros resultam em punições.
Com o passar do tempo, a criatividade ficou cada vez mais restrita às manifestações artísticas ou profissões específicas, e aos demais seres humanos, que supostamente não foram abençoados, só resta o trabalho.
Em meio a tudo isso, agora a sociedade nos pede: sejam diferentes, pensem fora da caixa, inovem (mas obviamente sem muitos riscos). Como?
O poder das Tribos Criativas
Depois de tantas experiências boas e ruins, aprendemos na teoria e na prática que para trabalhar com a criatividade, também é preciso saber trabalhar a inteligência do grupo.
Ao invés de esperar pelo brilhantismo de um indivíduo "iluminado", precisamos de dezenas ou centenas de ideias para escolhermos colaborativamente as que tem maior potencial. Duas (ou muitas) cabeças pensam melhor que uma, não é?
No livro O Poder do Nós, os psicólogos Dominic Packer e Jay Van Bavele mostram alguns elementos que tornam grupos mais inteligentes, e a inteligência emocional tem um papel fundamental.
Diversidade: Grupos diversos são mais propensos a ter uma gama mais ampla de perspectivas, o que permite uma melhor geração e avaliação das ideias.
Integridade: Quando as pessoas confiam umas nas outras, elas sentem maior abertura para compartilhar suas ideias, e por isso tendem a ser mais honestas e dar maior abertura para receber críticas.
Tempo: Quando todos se sentem ouvidos e respeitados, o compromisso com a tomada de decisão é maior — ou seja, quanto menos autoritarismo e tagarelice, melhor.
Comunicação: Os grupos que são capazes de se comunicar de forma eficaz são mais propensos a entender uns aos outros e a chegar em consenso. Na práica isso significa evitar picuinhas ou meias palavras.
Quando colocadas em prática, essas quatro diretrizes permitem que a ideias surjam com mais naturalidade e fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis no caótico processo criativo.
As coisas ficam ainda melhores quando temos objetivos claros e todos possuem acesso a informações de qualidade a respeito do projeto.
Instrumentos Criativos
As ferramentas também possuem um papel fundamental para o sucesso da criatividade, sejam elas instrumentos musicais, pinceis, tintas ou lata de spray, um martelo e serrote, uma metodologia ou um framework, enfim...
A evolução do artificial está diretamente ligada a evolução das ferramentas de cada tempo, por isso também é importante ficarmos atentos às tecnologias que permitem a produção criativa.
A Copa do Mundo de Ideias é uma das nossas ferramentas criadas para ajudar a decidir qual a melhor ideia do grupo, utilizando um sistema de rodadas eliminatórias onde diferentes conceitos são colocados frente a frente para saber qual atende melhor os critérios do desafio/objetivo.Esses critérios também são estruturados de acordo com cada projeto, por exemplo, no caso da escolha de um nome: qual soa melhor, qual é mais memorável, quais associações positivas ele promove, entre outros.
Cada um desses critérios "marca um gol" para uma das duas ideias em disputa, o que não impede a possibilidade de um possível empate tanto do próprio critério específico, quanto da "partida", o que é resolvido por um momento de deliberação mais aberto.
Também há um "critério de segurança" para barrar possíveis ideias prejudiciais, como por exemplo, ainda aproveitando o exemplo dos nomes, "possível sensação ruim que ele causa".
A substituição do brainstorm pelo brainwrite (também conhecido como Técnica de Grupo Nominal) trouxe resultados infinitamente melhores, especialmente ao impedir que aquela pessoa tagarela domine a sessão de ideação. E ao trabalhar as anotações anonimamente, suprimimos egos inflamados e julgamentos que podem ser prejudiciais para o projeto.
No fim das contas, adotamos algo que chamamos internamente de Processo Darwiniano de Ideação: os insights mais fortes ou adaptáveis sobrevivem ao processo de avaliar e testar ideias.
Conclusão
Todas as pessoas são criativas e podem ajudar a imaginar e a criar algo novo, mas se o ambiente não dá abertura para erros, se os encontros não permitem que todos falem, se a chefia intimida ao invés de liderar, se não há confiança entre os membros da equipe e se não há ferramentas apropriadas, nem com toda inspiração do mundo é possível criar algo original e de qualidade.
Se você gostou desse conteúdo, e tem curiosidade para saber mais sobre os nossos métodos e ferramentas, fique ligado porque tem muita coisa boa saindo da fogueira!
Desafios para a inovação no Brasil
Poucas empresas podem se dar ao luxo de investir enormes quantias de dinheiro e realizar até mesmo décadas de pesquisas até obter resultados concretos.
O Microsoft Bing demorou cerca de 15 anos até atingir um nível razoável de competitividade com a ferramenta de busca do Google.
Outro exemplo clássico do Brasil, as tecnologias desenvolvidas pela Petrobrás para a exploração do Pré-Sal são resultado de décadas de investimentos em P&D.
Esses investimentos acontecem na casa dos bilhões, mas se você não pretende explorar petróleo em camadas profundas nem competir diretamente com o Google, você não precisa chegar nesse nível para começar a inovar dentro da sua empresa.
Por que — e como — antecipar a validação
O Design Enxuto é uma abordagem focada em prototipagens e experimentações para acelerar o ritmo de validação das aprendizagens.
Em termos práticos, isso significa o oposto de desenvolver uma inovação guardada a sete chaves, ou realizar enormes investimentos e torcer para que dê certo.
Após a definição dos objetivos, desafios e grupo de trabalho do projeto, o Design Enxuto não espera até as etapas finais para colocar o produto à prova.
Os primeiros porcótipos* são avaliados muito antes das suas versões finais — de forma sigilosa e controlada —, para coletar as impressões de stakeholders: tanto especialistas quanto pessoas que se relacionam com os problemas que o projeto visa resolver.
*Porcótipos são protótipos que possuem fidelidade ambígua: ela é relativamente baixa com relação aos produtos finais, já que suas testagens são muito antecipadas, mas é alta com relação à forma em que são apresentados nas entrevistas, se parecendo com produtos prontos.
Não precisa ser um número muito grande de pessoas, geralmente de 7 a 10 já é o suficiente. Nesse momento a qualidade da validação é mais importante do que a quantidade, e por isso é fundamental saber para quem estamos direcionando nossas soluções. Quando mais nichado no começo, melhor.
Esses feedbacks antecipados criam uma dinâmica acelerada de validação das hipóteses e dos requisitos do projeto, deixando as elaborações mais trabalhosas e detalhadas para depois — com saberes e direcionamentos muito mais precisos.
Essa foi uma das principais transformações que realizamos nos últimos anos na Primata, após sofrermos bastante com um problema muito comum no mundo do Design: o projeto ficar indo e voltando até ser finalmente aprovado, para então seguir para as testagens e validações.
Logo cedo nós percebemos que essa etapa sempre gerava ideias riquíssimas para o projeto, e inclusive chegava a reformular algumas das premissas iniciais. Por que, então, não a aproveitar de antemão?
Essa antecipação não elimina as validações das etapas finais do projeto, mas para além do ganho de tempo, ela fornece bases muito mais seguras e eficientes para a continuidade do projeto, antecipando a identificação de possíveis erros e consequentemente diminuindo os riscos envolvidos.
Para saber mais sobre todo o nosso processo de Design, dê uma olhada no artigo sobre PriMétodos.
Inovação Raiz
Chamamos o Design Enxuto de “inovação raiz” porque ele é focado na criatividade, uma característica famosa do brasileiro que infelizmente é potencializada também por conta dos problemas que enfrentamos.
O importante aqui é saber que não precisa acertar de primeira, porque a inovação não precisa ser algo arriscado — muito pelo contrário —, e ela também não vai surgir como uma fórmula mágica.
Quando pensamos no Design Centrado em Humanos, mesclamos esse aspecto incremental do Design — das testagens, experimentações e validações que comentamos acima — com técnicas de Design Participativo e codesign.
Através dos métodos, técnicas e ferramentas certas, podemos potencializar a criatividade da equipe do projeto, evocando a essência criativa de todos nós, Primatas.
Ao invés de inovar com uma única “ótima ideia” — que pode dar certo ou não —, é possível gerar literalmente centenas de ideias em poucas horas de trabalho, com uma diversidade incomparável.
Depois que essas ideias são selecionadas, lapidadas e transformadas em porcótipos, as inovações podem ser validadas — como mostramos lá em cima — sem precisar mexer em grandes estruturas de gestão, engenharia ou afins. Exemplos:
Se pretende oferecer um novo produto caro para construir um MVP, elabore um material de vendas para descobrir se os features realmente teriam apelo e o mercado teria interesse (chamados smoke tests);
Se quer fazer uma nova embalagem, um "gêmeo digital" inserido em um catálogo — com produtos reais — pode ser útil para validar sabores ou testar argumentos da embalagem;
Antes de construir um móvel no material final, um protótipo feito em papelão ou isopor pode ajudar a descobrir proporções ou falhas ergonômicas rapidamente;
Para descobrir quais são os sabores de bolo preferidos pelo público, pode ser mais rápido e barato oferecer a degustação de dezenas de sabores diferentes de cupcakes, e ver quais acabam antes.
Inovação Aberta e Intraempreendedorismo
A Inovação Aberta é uma ótima alternativa para aumentar a receita, reduzir custos e impulsionar o crescimento do negócio sem precisar realizar grandes investimentos nem sofrer riscos.
Essa abordagem pode ser realizada tanto internamente quanto através da colaboração com empresas, universidades e outras organizações para gerar novas ideias e produtos.
Fizemos esse Guia Prático (disponível em PDF, de graça 😉) para ajudar qualquer empresa que queira começar a construir um ecossistema de inovação, independentemente do tipo de indústria ou número de funcionários.
Nesse passo a passo didático, os riscos são calculados e as conquistas são visíveis em cada etapa, gerando benefícios no curto prazo. Aproveite! 😊