Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

18.6.2023

Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

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Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

18.6.2023

Artigo #02 | Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

18.6.2023

Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

Design do Futuro: entenda algumas certezas diante do imprevisível.

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Enquanto algumas pessoas estão preocupadas com os avanços das tecnologias e das Inteligências Artificiais, outras se empolgam vislumbrando um futuro mais próspero, eficiente e sustentável. Entre tantas incertezas, neste artigo nós mostramos alguns caminhos que são inegociáveis para o futuro do design e da humanidade, partindo de uma crítica sobre a forma que o design tem sido feito e resgatando algumas de suas essências que serão cada vez mais necessárias.

Chega a ser impressionante a idolatria com quem “pensa fora da caixa”, como se a criatividade fosse uma habilidade exclusiva de algumas poucas pessoas.

Ironicamente, são raros os ambientes que incentivam de verdade as experimentações e são tolerantes com erros, falhas ou possíveis resultados insatisfatórios de alguma ideia nova.

É como se a equipe ou a pessoa criativa tivesse que ter um momento Eureka na hora certa, o que contraria a própria essência imprevisível do momento Eureka.Nenhum projeto pode ser refém de brilhantismos randômicos, porque isso sim significaria um risco para os investimentos de tempo e dinheiro, assim como uma incerteza com relação aos resultados.

Nesse contexto, o grande desafio é conciliar progresso com segurança e inovação com previsibilidade, o que geralmente é feito com planejamentos e estruturas sólidas, mas também — erroneamente — através da constante busca por brilhantismos individuais.

Nesse artigo nós falamos sobre a essência democrática da criatividade, reforçando a visão de que ela é algo inerente a todas as pessoas, e apresentamos alguns requisitos para que ela possa florescer.

No final, também mostramos um framework próprio da Primata, a Copa do Mundo de Ideias, e mostramos algumas técnicas que ajudam a potencializar a criatividade colaborativa.

Por que somos todos Primatas Criativos?

Uma das nossas grandes referências para a escolha do nome “Primata Criativo” foi justamente essa essência ancestral da criatividade, intrínseca em todos nós desde os primórdios.

Como comentamos aqui, nossos “primos distantes” já faziam design há centenas de milhares de anos, lascando pedras para criar ferramentas e joias.

Pintura rupestre de um javali selvagem, com mais de 45,5 mil anos. Encontrada na Indonésia em

A comunicação gráfica também é uma das nossas linguagens mais antigas, e inicialmente também era usada para transmitir conhecimentos tecnológicos e culturais.

Tão impressionante quanto essas criações terem ocorrido há tanto tempo é o fato de que elas sobreviveram até hoje, o que não seria possível sem técnicas sofisticadas

Isso mostra que a capacidade de imaginar, construir e manifestar algo novo sempre fez parte de nós, e todos podemos fortalecer essa habilidade, é só uma questão de prática e aperfeiçoamento.

A Criatividade como algo de "Superstars"

Por diversas questões, pela forma como a cultura da nossa sociedade se desenvolveu ao longo dos séculos, a criatividade foi sendo separada do dia a dia. Essa cisão ficou ainda mais intensa após a revolução industrial, com as produções em série e massificação.

Hoje vemos a criatividade ser podada desde cedo, na escola ou no lar — e a crença de que a criatividade é uma espécie de dom também vai passando de geração em geração. Que equívoco.

Nesse mesmo sentido, os ambientes sociais também se tornaram cada vez menos tolerantes às experimentações, pois erros resultam em punições.



A Criação de Adão, de Michelangelo.

Com o passar do tempo, a criatividade ficou cada vez mais restrita às manifestações artísticas ou profissões específicas, e aos demais seres humanos, que supostamente não foram abençoados, só resta o trabalho.

Em meio a tudo isso, agora a sociedade nos pede: sejam diferentes, pensem fora da caixa, inovem (mas obviamente sem muitos riscos). Como?

O poder das Tribos Criativas

Depois de tantas experiências boas e ruins, aprendemos na teoria e na prática que para trabalhar com a criatividade, também é preciso saber trabalhar a inteligência do grupo.

Ao invés de esperar pelo brilhantismo de um indivíduo "iluminado", precisamos de dezenas ou centenas de ideias para escolhermos colaborativamente as que tem maior potencial. Duas (ou muitas) cabeças pensam melhor que uma, não é?

No livro O Poder do Nós, os psicólogos Dominic Packer e Jay Van Bavele mostram alguns elementos que tornam grupos mais inteligentes, e a inteligência emocional tem um papel fundamental.

  1. Diversidade: Grupos diversos são mais propensos a ter uma gama mais ampla de perspectivas, o que permite uma melhor geração e avaliação das ideias.
  2. Integridade: Quando as pessoas confiam umas nas outras, elas sentem maior abertura para compartilhar suas ideias, e por isso tendem a ser mais honestas e dar maior abertura para receber críticas.
  3. Tempo: Quando todos se sentem ouvidos e respeitados, o compromisso com a tomada de decisão é maior — ou seja, quanto menos autoritarismo e tagarelice, melhor.
  4. Comunicação: Os grupos que são capazes de se comunicar de forma eficaz são mais propensos a entender uns aos outros e a chegar em consenso. Na práica isso significa evitar picuinhas ou meias palavras.

Quando colocadas em prática, essas quatro diretrizes permitem que a ideias surjam com mais naturalidade e fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis no caótico processo criativo.

As coisas ficam ainda melhores quando temos objetivos claros e todos possuem acesso a informações de qualidade a respeito do projeto.

Instrumentos Criativos

As ferramentas também possuem um papel fundamental para o sucesso da criatividade, sejam elas instrumentos musicais, pinceis, tintas ou lata de spray, um martelo e serrote, uma metodologia ou um framework, enfim...



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A evolução do artificial está diretamente ligada a evolução das ferramentas de cada tempo, por isso também é importante ficarmos atentos às tecnologias que permitem a produção criativa.

A Copa do Mundo de Ideias é uma das nossas ferramentas criadas para ajudar a decidir qual a melhor ideia do grupo, utilizando um sistema de rodadas eliminatórias onde diferentes conceitos são colocados frente a frente para saber qual atende melhor os critérios do desafio/objetivo.Esses critérios também são estruturados de acordo com cada projeto, por exemplo, no caso da escolha de um nome: qual soa melhor, qual é mais memorável, quais associações positivas ele promove, entre outros.

Cada um desses critérios "marca um gol" para uma das duas ideias em disputa, o que não impede a possibilidade de um possível empate tanto do próprio critério específico, quanto da "partida", o que é resolvido por um momento de deliberação mais aberto.

Também há um "critério de segurança" para barrar possíveis ideias prejudiciais, como por exemplo, ainda aproveitando o exemplo dos nomes, "possível sensação ruim que ele causa".

Framework da Copa do Mundo dos Nomes, elaborado pela Primata Criativo.

A substituição do brainstorm pelo brainwrite (também conhecido como Técnica de Grupo Nominal) trouxe resultados infinitamente melhores, especialmente ao impedir que aquela pessoa tagarela domine a sessão de ideação. E ao trabalhar as anotações anonimamente, suprimimos egos inflamados e julgamentos que podem ser prejudiciais para o projeto.

No fim das contas, adotamos algo que chamamos internamente de Processo Darwiniano de Ideação: os insights mais fortes ou adaptáveis sobrevivem ao processo de avaliar e testar ideias.

Conclusão

Todas as pessoas são criativas e podem ajudar a imaginar e a criar algo novo, mas se o ambiente não dá abertura para erros, se os encontros não permitem que todos falem, se a chefia intimida ao invés de liderar, se não há confiança entre os membros da equipe e se não há ferramentas apropriadas, nem com toda inspiração do mundo é possível criar algo original e de qualidade.

Se você gostou desse conteúdo, e tem curiosidade para saber mais sobre os nossos métodos e ferramentas, fique ligado porque tem muita coisa boa saindo da fogueira!

Quem está fazendo design: o designer ou o Pinterest?

Seja referenciando casos de sucesso ou sob o pretexto de não ofender ninguém, muitos designers — e algoritmos — estão dispensando a originalidade e dando preferência para sensos comuns.

Essa padronização via minimalismo fica evidente quando analisamos aplicativos, carros, arquiteturas e produtos físicos em geral, que até mesmo no Behance já apresentam uma semelhança impressionante entre conceitos de vários cantos do mundo, apesar de partirem de culturas e linguagens muito diferentes entre si.

Se muitas ferramentas e aplicativos já fornecem infinitas referências, inspirações e protótipos para boa parte dos trabalhos criativos, inclusive de forma gratuita, qual a necessidade de se contratar um designer?

As novas tecnologias são treinadas com dados coletados ao longo da história, ou seja, elas não elaboram coisas realmente novas, mas sim resultados “probabilisticamente mais corretos” conforme os dados coletados para esse treino.

A partir disso, percebemos que ao invés de proporem algo autenticamente inovador, elas sempre se embasarão no que já foi feito antes, reforçando estereótipos e eventualmente vieses problemáticos, o que é o oposto da inovação.

O diferencial do designer e o problema da presunção.

Muitos designers ainda se formam acreditando terem aprendido todas as técnicas para resolver qualquer problema. Essa cultura também é reforçada socialmente, já que profissionais de design passam a impressão de que trabalham em um "templo da criatividade” para resolverem problemas sozinhos.

Esse modus operandi focado no “heroísmo” e na “padronização” acaba ignorando as essências disruptivas, colaborativas, propositivas e inovadoras do design, que são algumas das qualidades que fizeram o design se propagar no mundo todo.

As novas mídias e tecnologias potencializam a forma como o design foi, é e será feito, o que indica a necessidade constante de se especializar em ferramentas, e não um risco para a existência da profissão. Os computadores substituíram as máquinas de escrever, mas nem por isso acabaram com os escritores, da mesma forma que o Photoshop não substituiu arquitetos e designers.

Nenhuma tecnologia poderá superar a capacidade humana de compreender os problemas de forma profunda, considerando contextos históricos, culturais e sociais, e de correlacioná-los de maneira não usual para propor soluções realmente significativas para as pessoas, unindo identidade, usabilidade e valor simbólico.

A abordagem holística e multidisciplinar, o trabalho colaborativo e o poder de convergência para criar projetos verdadeiramente únicos só são possíveis através de constantes pesquisas, redescobertas, aprendizagens e experimentações, e a principal ferramenta de transformação humana continuará sendo a mesma: o cérebro.

São essas habilidades que evidenciam a importância do designer, e são elas que embasarão cada vez mais o seu valor no futuro.

Pautas inegociáveis

Existem ao menos três grandes questões que englobam todo o nosso planeta e que serão cada vez mais fundamentais em qualquer projeto de design: a crise climática, os problemas sociais e a ética, e nenhuma delas será resolvida com o ChatGPT ou o Firefly.

Ao construir uma embalagem, por exemplo, o designer que só se preocupa com estilo, identidade visual e tipografia está atrasado em questões básicas que se mostram cada vez mais importantes, como entendimentos mais profundos sobre materiais, logística reversa, pós-uso e questões de supply chain, que são fundamentais para a construção de soluções circulares, que por sua vez são indispensáveis para o equilíbrio ambiental e a sobrevivência humana.

Em linhas gerais, todo designer terá responsabilidades diretas e indiretas sobre os impactos ambientais e sociais do seu trabalho, indo muito além de questões de acessibilidade, inclusão ou selo verde. Muitos atuarão diretamente na resolução de grandes problemas, por exemplo no combate à fome, uma pauta muito atual e inaceitável, e que cresceu assustadoramente nos últimos anos.

De acordo com O Pacto Contra a Fome, o Brasil hoje desperdiça oito vezes a quantidade de alimentos necessária para alimentar os 33,1 milhões de brasileiros que não tem o que comer, nem sabem quando voltarão a fazer uma refeição. Considerando os níveis moderados e leves de insegurança alimentar, o número de brasileiros afetados chega a 125 milhões, ou seja, 6 em cada 10 brasileiros.

A perspectiva holística do design poderia contribuir significativamente com soluções de logística ou mesmo na elaboração de políticas públicas transversais que articulassem cada região, comunidade e pessoa vulnerável, para citar apenas dois exemplos dentre infinitas possibilidades.

No futuro, nenhum designer terá o luxo de se limitar a ser apenas um porta-voz do Pinterest: todos atuarão como verdadeiros agentes de transformação, ou serão facilmente substituídos por ferramentas e tecnologias que, hoje mesmo, já realizam trabalhos automatizados em uma velocidade insuperável por qualquer pessoa.

Se o designer realmente gastar um pouco de tutano pensando em novas formas de melhorar a vida das pessoas e a sociedade, dificilmente uma máquina poderá substituí-lo: elas serão apenas ferramentas de apoio.

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